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Rondônia, terça, 31 de dezembro de 2024.

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O serviço da morte

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A morte do poeta Antonio Cicero, no último dia 23 de outubro, parece ter posto o suicídio em novo patamar de discussão. O tema é uma espécie de tabu na sociedade, ocultado ao máximo. Nas redes sociais, a morte de quem tira a própria vida é representada graficamente por um “m” seguido de asterisco (m*).

Há um consenso de que não se devem divulgar as motivações das pessoas que cometem o ato extremo e, menos ainda, os métodos empregados para o atingimento do objetivo. Ao digitarmos a palavra “suicídio” no Google, a inteligência artificial nos remete ao telefone do CVV (Centro de Valorização da Vida). Essas convenções se explicam pelo esforço de evitar algum estímulo inadvertido à ideação suicida. O último mês de setembro, aliás, foi dedicado a uma campanha de prevenção ao suicídio.

O caso de Antonio Cícero, porém, mereceu um tratamento diferente, o que talvez se deva mais à forma que ao conteúdo. Ele usou o serviço da Associação Dignitas, na Suíça, onde o procedimento é legal. Deixou uma carta que se encerra com a frase “Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”, uma variação sobre o lema da instituição (“To live with dignity, to die with dignity”). O gesto do poeta, que tinha recebido diagnóstico de Alzheimer no ano passado, foi visto como “racional”, “corajoso” e, sobretudo, “digno”.

A própria palavra “suicídio”, nesse caso, vem sendo substituída por “eutanásia”, porque esta última enfatiza o alívio do sofrimento (“morte suave”), ainda que haja uma distinção entre uma coisa e outra. Eutanásia é um procedimento realizado pelo médico, enquanto o suicídio assistido é realizado pela própria pessoa em ambiente controlado.

Neste ano, já tínhamos sido confrontados com o tema do suicídio no noticiário em outras duas ocasiões. Em agosto, houve o caso do jovem de 14 anos, bolsista em uma escola frequentada pelas classes mais altas da sociedade paulistana, que tirou a própria vida; um pouco antes, uma moça de 27 anos, que sofre de neuralgia do trigêmeo, fez uma “vaquinha” nas redes sociais para angariar os recursos necessários para viajar à Suíça, onde se submeteria à morte assistida. Ela conseguiu levantar o dinheiro, mas seu apelo também chegou a médicos, que lhe ofereceram outro tipo de ajuda: tratamento. Aparentemente, ela melhorou da “pior dor do mundo”, como é descrita a manifestação da doença, e adiou a ida à Suíça.
Leia mais (10/30/2024 – 10h00)

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