Músicas
The Sisters of Mercy: Ben Christo fala à RS sobre show no Brasil, Andrew Eldritch e álbuns clássicos
Convidado pela Rolling Stone Brasil a refletir sobre sua empolgação para o vindouro show do Sisters of Mercy no Brasil, o guitarrista Ben Christo fez uso de uma palavra interessante para definir o público local. Em sua visão, os fãs brasileiros são “leais”.
Tal característica pode, mesmo, ser destacada em casos como o do grupo inglês de gothic rock, hoje composto por Christo, o líder e membro original Andrew Eldritch (voz e guitarra), Kai (guitarra) e Chris Catalyst (operador da bateria eletrônica Doktor Avalanche). O Brasil é o oitavo país onde a banda mais se apresentou em seus 45 anos de carreira: ao todo, realizaram 20 shows por aqui, distribuídos em sete turnês, desde a primeira visita, em 1990. A plateia nacional tende a valorizar artistas que vêm até nós com frequência. Reciprocidade é a palavra-chave da relação.
E um novo capítulo desta história será escrito no próximo dia 26 de setembro, uma sexta-feira, quando o Sisters of Mercy toca no Tokio Marine Hall, em São Paulo (ingressos na Ticketmaster). Trata-se do menor intervalo desde a visita anterior, pois eles se apresentaram por aqui pela última vez há pouco mais de dois anos, em junho de 2023.
Por que há tanta conexão entre Sisters e Brasil, a ponto de justificar constantes turnês nacionais? Integrante desde 2006, Ben Christo não tem uma resposta exata, mas compartilha sua impressão a partir de relatos que ouviu:
“O que descobri conversando com fãs, jornalistas e amigos brasileiros é: me disseram que, historicamente, há um certo nível de sofrimento e luta diário no Brasil, então a música é uma grande força de cura para as pessoas — particularmente a música alternativa, em que você se expressa inclusive na aparência, maneira de vestir, fazer parte de um grupo que está fora do mainstream. Acho que o Sisters incorpora muito dessa sensibilidade de estar fora do mainstream, sendo um espaço seguro para se expressar, para se sentir diferente e para se sentir forte em sua diferença.”

Como em 2023, o Sisters tocará apenas em São Paulo na vindoura turnê. Também não há uma explicação precisa a respeito disso: Christo menciona “questões de agenda, logística, custos e outros tipos de aspectos”, mas reforça que isso foge de seu conhecimento. Outro ponto cuja resposta ficou pendente é em relação ao setlist, a ser definido somente bem perto da data da performance. Mas ele antecipa o conceito:
“Com base em shows recentes, posso dizer que gostamos de equilibrar o catálogo gravado e as músicas recentes que compusemos juntos [mas não foram lançadas em gravações], principalmente dos últimos cinco ou seis anos. Acho que o visual também será diferente: um pouco mais dramático, com extremos de luz e escuridão.”
Um repertório recente, tocado na Bulgária no último domingo, 14, incluiu as seguintes faixas:
- Don’t Drive on Ice
- Crash and Burn
- Ribbons
- Doctor Jeep / Detonation Boulevard
- More
- I Will Call You
- Alice
- Dominion / Mother Russia
- Summer
- Giving Ground (The Sisterhood)
- Marian
- But Genevieve
- Eyes of Caligula
- Here
- Quantum Baby
- On the Beach
- When I’m on Fire
- Temple of Love
Bis:
- Never Land (A Fragment)
- Lucretia My Reflection
- This Corrosion
Observe algo interessante: “No Time to Cry”, recentemente incluída na trilha sonora da série Wandinha, não está presente. Sequer foi possível perguntar a Ben a respeito da faixa, visto que a entrevista ocorreu antes da estreia da nova temporada do seriado.
O novo integrante
Desde a criação em 1980, o Sisters of Mercy passou por quase 20 mudanças de formação. Três quartos da formação se mantêm estáveis: Andrew Eldritch está lá desde o início, enquanto Chris Catalyst entrou em 2005 e Ben Christo, no ano seguinte. A alteração mais recente se deu em 2023, pouco após o show no Brasil, quando o guitarrista Dylan Smith teve um sério desentendimento com o grupo e acabou dando lugar a Kai.
De acordo com Christo, a chegada de Kai se mostrou determinante em mais de um aspecto. Além de bastante proficiente na guitarra, o músico britânico-japonês de 32 anos é um ótimo cantor.
“Eu adoro cantar e o Kai é um cantor incrível: ele vai do agudo ao grave e passa por tudo entre esses dois. Ele me aprimorou, pois quis subir de nível para corresponder à habilidade dele. Antes, eu cantava as coisas de um jeito mais rock, mas Kai me guiou em direção ao que é um reflexo mais verdadeiro da paleta vocal das Sisters of Mercy.”

O integrante constante
Chegada recente de Kai à parte, há de se destacar a estabilidade que Ben Christo e Chris Catalyst ofereceram ao Sisters of Mercy. O que fez a parceria de Ben com Andrew Eldritch dar tão certo? O guitarrista menciona, de início, razões para além da música:
“Acho que o Andrew e eu temos um bom equilíbrio entre semelhanças e diferenças. Gostamos de ler e assistir a filmes e discuti-los longamente, para além do valor superficial: sobre o significado histórico, o simbolismo e a relevância psicológica e filosófica das questões levantadas por esses filmes e livros. E é muito bom não falar sobre música. Falamos muito mais sobre filmes do que sobre música.”
Ben, hoje com 45 anos, nasceu no ano em que o Sisters of Mercy foi fundado. Por isso, o músico destaca o enorme aprendizado obtido com o líder do grupo ao longo das quase duas décadas de trabalho em conjunto.
“Ele me ensinou muito sobre moderação quando se trata de performance e composição. Quando entrei para a banda, eu era um daqueles guitarristas que quer tocar todas as notas o tempo todo. Andrew me ensinou que, na verdade, é muito mais eficaz tocar apenas três notas, olhar para o público e dominar o palco, em vez de tocar um monte e apenas olhar para o braço da guitarra. Eu tinha a mentalidade de que, se você não está tocando, não está fazendo nada; mas o importante é o que você não toca. As pausas. A contenção. O mesmo vale para a composição musical. Como tornar três notas realmente eficazes? O importante é como você as posiciona, como você as toca, a relação entre elas.”

Nem sempre há concordâncias, no entanto. Entretanto, a parceria entre Andrew e Ben é duradoura por conta do equilíbrio.
“Há diferenças em nossas abordagens, por vezes opiniões bem polarizadas, mas encontramos um meio-termo muito bom.”
Ben Christo para além do Sisters of Mercy
Fora o Sisters of Mercy, Ben Christo construiu um catálogo robusto. Trabalhou com artistas e bandas como AKO, Night By Night, Anzi Destruction, Pig, The 69 Eyes e Ricky Warwick, seja como membro ou convidado.
Quando não está com Andrew Eldritch e companhia, porém, seu foco é o Diamond Black, projeto de dark rock que criou em 2016. Após uma série de singles lançados, a ideia é disponibilizar o primeiro álbum completo no ano que vem. O guitarrista, que nesta iniciativa assume vocais, elabora:
“Sonoramente, acho que é uma mistura de hard rock e dark wave, com sintetizadores aliados a grandes riffs. Temos uma mensagem muito positiva, sobre lutas contra ansiedade, depressão e vício, com base em soluções. Construímos uma comunidade modesta, mas forte, de fãs no nosso Discord e nas redes, um espaço seguro para pessoas do mundo todo que talvez tenham passado por alguma dificuldade e possam encontrar algum consolo nessa conexão.”
Os álbuns aniversariantes
Por fim, Ben Christo foi convidado a comentar sobre dois álbuns clássicos do Sisters of Mercy que completam aniversários de lançamento: First and Last and Always (1985) e Vision Thing (1990), que chegam aos seus 40 e 35 anos, respectivamente. Christo, evidentemente, não participou das gravações desses registros, mas os conheceu como fã e os executa ao vivo até hoje.
First and Last and Always (1985) | algumas das músicas mais conhecidas: “Black Planet”, “Marian”, “No Time to Cry”, “Nine While Nine”
BC: “Estranhamente, só fui ouvir esse álbum em 2002. Foi um dos últimos trabalhos da banda que ouvi. Eu trabalhava em uma loja de vinhos na época e minha chefe me emprestou o álbum. Achei muito especial e único, com uma atmosfera palpável. Muitas bandas tentaram copiar esse som. Algumas delas, nos anos 1990, soavam como se estivessem tentando recriá-lo de um jeito mais pesado. Há algo muito especial naquele álbum. E ele continua a ressoar com as pessoas, porque quando tocamos faixas dele, você vê os olhos das pessoas brilharem.”
Vision Thing (1990) | algumas das músicas mais conhecidas: “More”, “Vision Thing”, “Doctor Jeep”, “Detonation Boulevard”
BC: “Foi o primeiro material do Sisters of Mercy que ouvi. Meu tio me emprestou a fita cassete e estava posicionada já no lado B, que tive que ouvir primeiro, senão teria de voltar tudo para o começo. A primeira música que ouvi foi ‘When You Don’t See Me’ e ela imediatamente capturou minha imaginação, minha empolgação e minha atenção. Era um hard rock de alta produção, mas com um vocal muito diferente das outras músicas que eu ouvia na época. Minhas bandas favoritas eram Def Leppard, AC/DC e Judas Priest, com vozes mais agudas, enquanto esse vocal era bem grave, enigmático, quase falado, com letras muito gentis, intrigantes e esotéricas. Realmente me conectei com isso. Eu me pergunto se ficaria tão envolvido com a banda se eu não tivesse ouvido aquele disco e aquela música naquela época específica. Há outras músicas ótimas. Sempre adorei ‘I Was Wrong’, é muito especial nos shows. Fico até um pouco emocionado ao tocá-la, pois me lembro de ouvi-la no ônibus para a escola. Também tem ‘Ribbons’, que coloquei em uma coletânea de músicas favoritas quando tinha 15 anos. ‘More’ é uma música fantástica, também emocionante de tocar ao vivo.”
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Fonte: Rolling Stones