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Perdeu, mané
O episódio nos interessa do ponto de vista da linguagem e da dinâmica social que a envolve. Não foram poucas as críticas ao ministro, que, dada a posição que ocupa, supostamente, não poderia ter perdido a paciência em público ou ainda, pelo mesmo motivo, não deveria ter usado esse registro linguístico. Houve até quem indagasse se “perdeu, mané” não é uma frase usada por assaltantes.
De fato, o termo “perdeu” é usado no “jargão” dos assaltantes como abordagem da vítima (como se dissessem: “não adianta reagir, você já perdeu”), mas, claramente, não foi nesse sentido que Barroso o empregou. Para compreender o que se passou, convém reproduzir o brevíssimo diálogo. Vejamos:
Homem desconhecido: “O senhor vai responder às Forças Armadas? O senhor vai deixar o código-fonte ser exposto? O Brasil precisa dessa resposta, ministro, com todo o respeito. Por favor, Barroso, responde pra gente”.
Ministro: “Perdeu, mané. Não amola!”.
Homem desconhecido: “É sério. Não faz isso, não, ministro”.
O contexto deixa claro que o termo “perdeu”, nesse caso, estava relacionado ao candidato que perdeu a eleição, ou seja, Jair Bolsonaro. Ao mencionar o código-fonte da urna eletrônica, o homem deixou subentendido que tem dúvidas quanto ao resultado da eleição, na qual o atual presidente saiu derrotado. Barroso quis dizer, portanto, que Bolsonaro perdeu a eleição e que é melhor aceitar o fato.
Quanto a “mané”, a palavra é de uso geral, tanto que já é até dicionarizada. Segundo o Houaiss, “mané” (no registro informal, com sentido pejorativo) é um “indivíduo sem capacidade, pouco inteligente; bobo, paspalhão, tolo”. A origem do termo é desconhecida, mas, por certo, faz referência a algum Manuel, nome tipicamente português. Se considerarmos as célebres “piadas de português”, em que os lusitanos sempre fazem o papel de bobo, teremos alguma pista para investigar o nascedouro da palavra.
Leia mais (11/22/2022 – 19h00)