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Rondônia, sexta, 19 de setembro de 2025.

Músicas

The Sisters of Mercy: Ben Christo fala à RS sobre show no Brasil, Andrew Eldritch e álbuns clássicos

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Ben Christo e Andrew Eldritch, do Sisters of Mercy

Convidado pela Rolling Stone Brasil a refletir sobre sua empolgação para o vindouro show do Sisters of Mercy no Brasil, o guitarrista Ben Christo fez uso de uma palavra interessante para definir o público local. Em sua visão, os fãs brasileiros são “leais”.

Tal característica pode, mesmo, ser destacada em casos como o do grupo inglês de gothic rock, hoje composto por Christo, o líder e membro original Andrew Eldritch (voz e guitarra), Kai (guitarra) e Chris Catalyst (operador da bateria eletrônica Doktor Avalanche). O Brasil é o oitavo país onde a banda mais se apresentou em seus 45 anos de carreira: ao todo, realizaram 20 shows por aqui, distribuídos em sete turnês, desde a primeira visita, em 1990. A plateia nacional tende a valorizar artistas que vêm até nós com frequência. Reciprocidade é a palavra-chave da relação.

E um novo capítulo desta história será escrito no próximo dia 26 de setembro, uma sexta-feira, quando o Sisters of Mercy toca no Tokio Marine Hall, em São Paulo (ingressos na Ticketmaster). Trata-se do menor intervalo desde a visita anterior, pois eles se apresentaram por aqui pela última vez há pouco mais de dois anos, em junho de 2023.

Por que há tanta conexão entre Sisters e Brasil, a ponto de justificar constantes turnês nacionais? Integrante desde 2006, Ben Christo não tem uma resposta exata, mas compartilha sua impressão a partir de relatos que ouviu:

“O que descobri conversando com fãs, jornalistas e amigos brasileiros é: me disseram que, historicamente, há um certo nível de sofrimento e luta diário no Brasil, então a música é uma grande força de cura para as pessoas — particularmente a música alternativa, em que você se expressa inclusive na aparência, maneira de vestir, fazer parte de um grupo que está fora do mainstream. Acho que o Sisters incorpora muito dessa sensibilidade de estar fora do mainstream, sendo um espaço seguro para se expressar, para se sentir diferente e para se sentir forte em sua diferença.”

Ben Christo, do Sisters of Mercy (Foto: Miikka Skaffari/Getty Images)
Ben Christo, do Sisters of Mercy (Foto: Miikka Skaffari/Getty Images)

Como em 2023, o Sisters tocará apenas em São Paulo na vindoura turnê. Também não há uma explicação precisa a respeito disso: Christo menciona “questões de agenda, logística, custos e outros tipos de aspectos”, mas reforça que isso foge de seu conhecimento. Outro ponto cuja resposta ficou pendente é em relação ao setlist, a ser definido somente bem perto da data da performance. Mas ele antecipa o conceito:

“Com base em shows recentes, posso dizer que gostamos de equilibrar o catálogo gravado e as músicas recentes que compusemos juntos [mas não foram lançadas em gravações], principalmente dos últimos cinco ou seis anos. Acho que o visual também será diferente: um pouco mais dramático, com extremos de luz e escuridão.”

Um repertório recente, tocado na Bulgária no último domingo, 14, incluiu as seguintes faixas:

  1. Don’t Drive on Ice
  2. Crash and Burn
  3. Ribbons
  4. Doctor Jeep / Detonation Boulevard
  5. More
  6. I Will Call You
  7. Alice
  8. Dominion / Mother Russia
  9. Summer
  10. Giving Ground (The Sisterhood)
  11. Marian
  12. But Genevieve
  13. Eyes of Caligula
  14. Here
  15. Quantum Baby
  16. On the Beach
  17. When I’m on Fire
  18. Temple of Love

Bis:

  1. Never Land (A Fragment)
  2. Lucretia My Reflection
  3. This Corrosion

Observe algo interessante: “No Time to Cry”, recentemente incluída na trilha sonora da série Wandinha, não está presente. Sequer foi possível perguntar a Ben a respeito da faixa, visto que a entrevista ocorreu antes da estreia da nova temporada do seriado.

O novo integrante

Desde a criação em 1980, o Sisters of Mercy passou por quase 20 mudanças de formação. Três quartos da formação se mantêm estáveis: Andrew Eldritch está lá desde o início, enquanto Chris Catalyst entrou em 2005 e Ben Christo, no ano seguinte. A alteração mais recente se deu em 2023, pouco após o show no Brasil, quando o guitarrista Dylan Smith teve um sério desentendimento com o grupo e acabou dando lugar a Kai.

De acordo com Christo, a chegada de Kai se mostrou determinante em mais de um aspecto. Além de bastante proficiente na guitarra, o músico britânico-japonês de 32 anos é um ótimo cantor.

“Eu adoro cantar e o Kai é um cantor incrível: ele vai do agudo ao grave e passa por tudo entre esses dois. Ele me aprimorou, pois quis subir de nível para corresponder à habilidade dele. Antes, eu cantava as coisas de um jeito mais rock, mas Kai me guiou em direção ao que é um reflexo mais verdadeiro da paleta vocal das Sisters of Mercy.”

Kai e Andrew Eldritch ao vivo com The Sisters of Mercy em 2023
Kai e Andrew Eldritch ao vivo com o Sisters of Mercy em 2023 (Foto: Mariano Regidor / Redferns)

O integrante constante

Chegada recente de Kai à parte, há de se destacar a estabilidade que Ben Christo e Chris Catalyst ofereceram ao Sisters of Mercy. O que fez a parceria de Ben com Andrew Eldritch dar tão certo? O guitarrista menciona, de início, razões para além da música:

“Acho que o Andrew e eu temos um bom equilíbrio entre semelhanças e diferenças. Gostamos de ler e assistir a filmes e discuti-los longamente, para além do valor superficial: sobre o significado histórico, o simbolismo e a relevância psicológica e filosófica das questões levantadas por esses filmes e livros. E é muito bom não falar sobre música. Falamos muito mais sobre filmes do que sobre música.”

Ben, hoje com 45 anos, nasceu no ano em que o Sisters of Mercy foi fundado. Por isso, o músico destaca o enorme aprendizado obtido com o líder do grupo ao longo das quase duas décadas de trabalho em conjunto.

“Ele me ensinou muito sobre moderação quando se trata de performance e composição. Quando entrei para a banda, eu era um daqueles guitarristas que quer tocar todas as notas o tempo todo. Andrew me ensinou que, na verdade, é muito mais eficaz tocar apenas três notas, olhar para o público e dominar o palco, em vez de tocar um monte e apenas olhar para o braço da guitarra. Eu tinha a mentalidade de que, se você não está tocando, não está fazendo nada; mas o importante é o que você não toca. As pausas. A contenção. O mesmo vale para a composição musical. Como tornar três notas realmente eficazes? O importante é como você as posiciona, como você as toca, a relação entre elas.”

Andrew Eldritch, do Sisters of Mercy (Foto: Miikka Skaffari/Getty Images)
Andrew Eldritch, do Sisters of Mercy (Foto: Miikka Skaffari/Getty Images)

Nem sempre há concordâncias, no entanto. Entretanto, a parceria entre Andrew e Ben é duradoura por conta do equilíbrio.

“Há diferenças em nossas abordagens, por vezes opiniões bem polarizadas, mas encontramos um meio-termo muito bom.”

Ben Christo para além do Sisters of Mercy

Fora o Sisters of Mercy, Ben Christo construiu um catálogo robusto. Trabalhou com artistas e bandas como AKO, Night By Night, Anzi Destruction, Pig, The 69 Eyes e Ricky Warwick, seja como membro ou convidado.

Quando não está com Andrew Eldritch e companhia, porém, seu foco é o Diamond Black, projeto de dark rock que criou em 2016. Após uma série de singles lançados, a ideia é disponibilizar o primeiro álbum completo no ano que vem. O guitarrista, que nesta iniciativa assume vocais, elabora:

“Sonoramente, acho que é uma mistura de hard rock e dark wave, com sintetizadores aliados a grandes riffs. Temos uma mensagem muito positiva, sobre lutas contra ansiedade, depressão e vício, com base em soluções. Construímos uma comunidade modesta, mas forte, de fãs no nosso Discord e nas redes, um espaço seguro para pessoas do mundo todo que talvez tenham passado por alguma dificuldade e possam encontrar algum consolo nessa conexão.”

Os álbuns aniversariantes

Por fim, Ben Christo foi convidado a comentar sobre dois álbuns clássicos do Sisters of Mercy que completam aniversários de lançamento: First and Last and Always (1985) e Vision Thing (1990), que chegam aos seus 40 e 35 anos, respectivamente. Christo, evidentemente, não participou das gravações desses registros, mas os conheceu como fã e os executa ao vivo até hoje.

First and Last and Always (1985) | algumas das músicas mais conhecidas: “Black Planet”, “Marian”, “No Time to Cry”, “Nine While Nine”

BC: “Estranhamente, só fui ouvir esse álbum em 2002. Foi um dos últimos trabalhos da banda que ouvi. Eu trabalhava em uma loja de vinhos na época e minha chefe me emprestou o álbum. Achei muito especial e único, com uma atmosfera palpável. Muitas bandas tentaram copiar esse som. Algumas delas, nos anos 1990, soavam como se estivessem tentando recriá-lo de um jeito mais pesado. Há algo muito especial naquele álbum. E ele continua a ressoar com as pessoas, porque quando tocamos faixas dele, você vê os olhos das pessoas brilharem.”

Vision Thing (1990) | algumas das músicas mais conhecidas: “More”, “Vision Thing”, “Doctor Jeep”, “Detonation Boulevard”

BC: “Foi o primeiro material do Sisters of Mercy que ouvi. Meu tio me emprestou a fita cassete e estava posicionada já no lado B, que tive que ouvir primeiro, senão teria de voltar tudo para o começo. A primeira música que ouvi foi ‘When You Don’t See Me’ e ela imediatamente capturou minha imaginação, minha empolgação e minha atenção. Era um hard rock de alta produção, mas com um vocal muito diferente das outras músicas que eu ouvia na época. Minhas bandas favoritas eram Def Leppard, AC/DC e Judas Priest, com vozes mais agudas, enquanto esse vocal era bem grave, enigmático, quase falado, com letras muito gentis, intrigantes e esotéricas. Realmente me conectei com isso. Eu me pergunto se ficaria tão envolvido com a banda se eu não tivesse ouvido aquele disco e aquela música naquela época específica. Há outras músicas ótimas. Sempre adorei ‘I Was Wrong’, é muito especial nos shows. Fico até um pouco emocionado ao tocá-la, pois me lembro de ouvi-la no ônibus para a escola. Também tem ‘Ribbons’, que coloquei em uma coletânea de músicas favoritas quando tinha 15 anos. ‘More’ é uma música fantástica, também emocionante de tocar ao vivo.”

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Fonte: Rolling Stones

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